Última
flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amote
assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo
o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em
que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
ANÁLISE
- Quanto a métrica –
Trata-se
de um soneto por apresentar dois quartetos e dois tercetos. Apresenta versos decassílabos.
As rimas são dispostas em ABBA, e são, assim, classificadas como rimas enlaçadas.
Apresenta linguagem padrão e rimas ricas e raras por rimar palavra de classes
gramaticais distintas como ocorre no primeiro quarteto quando o autor rima bela
(substantivo) e vela adjetivo.
- Quanto ao conteúdo –
No poema Língua Portuguesa, o autor parnasiano Olavo Bilac faz
uma abordagem sobre o histórico da língua portuguesa, tema já tratado por
Camões. Este poema inspirou outras abordagens, como o poema “Língua”, de Gilberto
Mendonça e “Língua Portuguesa”, de Caetano Veloso. Partindo para
uma análise semântica do texto literário, observa-se que o poeta, com a
metáfora “Última flor do Lácio, inculta e bela”, refere-se ao fato de que a
língua portuguesa ter sido a última língua neolatina formada a partir do latim
vulgar – falado pelos soldados da região italiana do Lácio. No segundo verso,
há um paradoxo: “És a um tempo,
esplendor e sepultura”. “Esplendor”, porque uma nova língua estava ascendendo,
dando continuidade ao latim. “Sepultura” porque, a partir do momento em que a
língua portuguesa vai sendo usada e se expandindo, o latim vai caindo em
desuso, “morrendo”. No terceiro e quarto verso, “Ouro nativo, que na ganga
impura / A bruta mina entre os cascalhos vela”, o poeta exalta a língua que
ainda não foi lapidada pela fala, em comparação às outras também formadas a
partir do latim. O poeta enfatiza a beleza da língua em suas diversas
expressões: oratórias, canções de ninar, emoções, orações e louvores: “Amo-te
assim, desconhecida e obscura,/ Tuba de alto clangor, lira singela”. Ao fazer
uso da expressão “O teu aroma/ de virgens cegas e oceano largo”, o autor aponta
a relação subjetiva entre o idioma novo, recém-criado, e o “cheiro agradável
das virgens selvas”, caracterizando as florestas brasileiras ainda não
exploradas pelo homem branco. Ele manifesta a maneira pela qual a língua foi
trazida ao Brasil – através do oceano, numa longa viagem de caravela – quando
encerra o segundo verso do terceto. Ainda expressando o seu amor pelo idioma,
agora através de um vocativo, “Amo-te, ó rude e doloroso idioma”, Olavo Bilac
alude ao fato de que o idioma ainda precisava ser moldado e, impor essa língua
a outros povos não era um tarefa fácil, pois implicou em destruir a cultura de
outros povos. No último terceto, para finalizar, quando o autor diz: “Em que da
voz materna ouvi: “meu filho!/ E em que Camões chorou, no exílio amargo/ O
gênio sem ventura e o amor sem brilho”, ele utiliza uma expressão fora da norma
(“meu filho”) e refere-se a Camões, quem consolidou a língua portuguesa no seu
célebre livro “Os Lusíadas”, uma epopéia que conta os feitos grandiosos dos
portugueses durante as “grandes navegações”, produzida quando esteve exilado,
aos 17 anos, nas colônias portuguesas da África e da Ásia. Desce exílio, nasceu
“Os Lusíadas”, uma das oitavas epopéias do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário