quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O pássaro cativo



Armas, num galho de árvore, o alçapão; 

E, em breve, uma avezinha descuidada, 
Batendo as asas cai na escravidão.


Dás-lhe então, por esplêndida morada,     

             A gaiola dourada; 

Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo: 
Porque é que, tendo tudo, há de ficar 
             O passarinho mudo, 
Arrepiado e triste, sem cantar?


É que, criança, os pássaros não falam. 

Só gorjeando a sua dor exalam, 
Sem que os homens os possam entender; 

            Se os pássaros falassem, 

Talvez os teus ouvidos escutassem 
Este cativo pássaro dizer:


             “Não quero o teu alpiste! 

Gosto mais do alimento que procuro 
Na mata livre em que a voar me viste; 
Tenho água fresca num recanto escuro 
             Da selva em que nasci;



Da mata entre os verdores, 
             Tenho frutos e flores, 
             Sem precisar de ti! 
Não quero a tua esplêndida gaiola! 
Pois nenhuma riqueza me consola 



De haver perdido aquilo que perdi ... 
Prefiro o ninho humilde, construído 
De folhas secas, plácido, e escondido 
Entre os galhos das árvores amigas ... 



             Solta-me ao vento e ao sol! 
Com que direito à escravidão me obrigas? 
Quero saudar as pompas do arrebol! 
             Quero, ao cair da tarde, 
Entoar minhas tristíssimas cantigas! 
Por que me prendes? Solta-me covarde! 
Deus me deu por gaiola a imensidade: 
Não me roubes a minha liberdade ... 
             Quero voar! voar! ...’’


Estas cousas o pássaro diria, 

             Se pudesse falar. 
E a tua alma, criança, tremeria, 
             Vendo tanta aflição: 
E a tua mão tremendo, lhe abriria 
             A porta da prisão...

ANÁLIS

- Quanto a métrica -
É um poema que não apresenta regularidade quanto ao tipo de versos e estrofes. A primeira estrofe é um terceto; a sexta estrofé uma quadra; a quarta e a quinta
estrofe são quintilhas; a segunda, terceira e oitava estrofe são sextilhas; enquanto a sétima estrofé uma nona.
  
- Quanto ao conteúdo -
Trata-se de um poema de caráter didático pelo fato de haver nele a ideia de instruir o público infantil sobre o valor e a função da natureza. Nele Bilac demonstra o quanto à liberdade é preciosa. O texto é narrativo e de fácil entendimento. ‘‘O pássaro cativo’’ tem o intuito conscientização do público infantil sobre a relevância da natureza. A interpretação do poema fundamenta-se no conceito de humanização. Trata do fato das crianças cometerem atos agressivos à liberdade dos pássaros. Olavo Bilac produz em seu poema uma ideia de conscientização de que devemos respeitar os pássaros. O poema, sobretudo retrata o sentimento de um pássaro que depois de tirado da natureza não esta satisfeito com a vida que leva na gaiola. Mesmo com todos os privilégios o pássaro fica triste por não estar livre.

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