quarta-feira, 31 de outubro de 2012

In Extremis



Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! De um sol assim!
                             Tu, desgrenhada e fria,
Fria! Postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados...
E um dia assim! De um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...
E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! E este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais a morte...
Eu com o frio a crescer no coração, — tão cheio
De ti, até no horror do verdadeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!
                             E eu morrendo! E eu morrendo,
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! A delícia da vida!

ANÁLIS
- Quanto a métrica -
Não apresenta regularidade quanto as estrofes: a terceira estrofe é um terceto; a ultima estrofe é uma quadra; enquanto a primeira, a segunda e a quarta estrofe são quintilhas. Os versos são dodecassílabos e são dispostos no formato AABB, sendo assim rimas paralelas. Apresenta rimas ricas e raras por rimar palavras de classes gramaticais distintas como por exemplo na primeira estrofe o autor rima dia (substantivo) com fria (adjetivo).

- Quanto ao conteúdo -
O poema retrata claramente a não aceitação da morte. O eu lírico sofre por estar morrendo em um dia em que tudo está muito lindo. Ao contrário da segunda geração romântica onde há sofrimento na vida, neste poema o sofrimento está presente na morte. Em todo poema há a descrição de quão belo está o dia para o eu lírico estar morrendo. O autor também apresenta figuras de linguagem: Olavo Bilac usa uma prosopopeia em ''ninhos cantando'' para descrever o canto dos pássaros no dia de sua morte.

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