quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Nel Mezzo Del Camin...



Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo



ANÁLISE

- Quanto a métrica -
Trata-se de um soneto por apresentar 2 quartetos e 2 tercetos com todos os versos decassílabos. As rimas são dispostas no formato ABAB, sendo assim classificadas como rimas cruzadas, ou alternadas.

- Quanto ao conteúdo -
O famoso poema de Olavo Bilac retoma o verso de abertura do livro Inferno, que é a primeira parte d’A Divina Comédia, obra-prima do poeta italiano Dante Alighieri. No poema de Dante, esse trecho corresponde à uma metáfora do caminho que o protagonista do poema está para enfrentar e vencer, em busca de sua amada e de uma revelação divina. No poema de Bilac, percebe-se que é um eu-lírico masculino que lamenta a dor de separar-se de sua amada após longos anos juntos. Do ponto de vista formal, temos que o poema é construído em torno de paralelismos e quiasmos (figura de linguagem que repete os termos em versos diferentes, mas em ordem invertida). Além disso, há a presença do enjambement ou cavalgamento, que é a ruptura de uma frase entre dois versos, o que gera um alongamento do metro e aproxima o ritmo do verso ao ritmo da prosa.

8 comentários:

  1. Percebe-se também que o motivo da separação é a morte da amada, cujo vulto desaparece "na extrema curva do caminho extremo". O pranto que os olhos umedece e a dor da despedida que comove é só para quem permanece vivo. Os mortos já não choram nem se comovem.

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